Parede de escudos

27/03/2011
“Parede de escudos!” Se você leu a trilogia As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell, com certeza vai se lembrar dessa frase. Aliás, ela é um elemento indispensável no contexto da história, já que não dá para imaginar uma cena de batalha no livro sem a tal parede de escudos.
Depois de pesquisar sobre o assunto na internet – em sites especializados em táticas de combate – passei a entender porque os valentes guerreiros da trilogia de Cornwell, fossem britânicos ou saxões enchiam a cara de hidromel e outras misturas alcoólicas antes de entrarem numa batalha. Enfrentar uma parede de escudos não era missão para qualquer um. Até mesmo o mais valente dos soldados, na hora H, tinha vontade de virar as costas e sair correndo ou então se esconder.
O segundo livro da trilogia, Inimigo de Deus que comecei a reler, logo nas primeiras páginas, deixa evidente o pesadelo dessa modalidade de combate, quando Derfel, o comandante guerreiro de Artur e narrador da história, explica que um campo após a batalha é uma coisa pavorosa. “Tínhamos vencido, mas não havia empolgação em nossas almas, apenas cansaço e alívio”, revela o bravo soldado e confidente de Artur. Ele acrescenta que após a batalha a maioria dos guerreiros não conseguia dormir por estarem ainda muito assustados com a luta sangrenta, e aqueles que conseguiam fechar os olhos não dormiam bem por causa dos pesadelos com as lanças da parede de escudos inimiga rasgando barrigas e ceifando vidas.
Como sempre, Bernard Cornwell foi muito competente em sua pesquisa e antes de escrever As Crônicas de Artur pesquisou à exaustão sobre o assunto e valeu à pena. Hoje temos comunidades e enquetes no Orkut específicas sobre parede de escudos, graças aos livros “O Rei do Inverno”, “Inimigo de Deus” e “Excalibur” que compõem a saga arturiana escrita por Cornwell. Lembro-me de uma mais ou menos assim: “Quem você gostaria de ter à sua direita numa parede de escudos?”. Enfim, graças à obra, o assunto foi propalado ao máximo na net.
A tática da parede de escudos foi amplamente utilizada nas batalhas pelos exércitos medievais, incluindo os violentos combates que aconteceram nos séculos V e VI na Britânia, quando o exército britânico tentava a todo custo impedir ou pelo menos retardar a invasão dos saxões.
A organização de uma parede consistia em “colar” borda de escudo com borda de escudo. Segundo a Wikipédia, cada homem cobria com a arma de ataque o companheiro à sua direita (considerando-se apenas destros) e seu escudo cobria o lado direito do homem à sua esquerda.
A regra básica nesta tática de combate era que os homens mais corajosos ficassem na primeira fileira da parede, pois se a formação rompesse, os guerreiros do exército inimigo se infiltrariam pelos buracos da parede e então... o estrago estava feito, pois uma parede de escudos rompida é morte certa de seus integrantes.
Outro detalhe importante: quanto mais “grossa” for a parede, ou seja, quanto mais homens de profundidade ela tiver, maiores são as chances dela resistir mais tempo e também forçar a parede inimiga.
Segundo o que pesquisei, a luta entre duas paredes de escudos era algo brutal ao extremo, um verdadeiro morticínio. Muitas vezes, formava-se pilhas de cadáveres  que separavam as paredes dos dois exércitos, o que contribuia para o rompimento de uma delas, quase sempre daquela que tentava escalar o monte de guerreiros mortos ou agonizantes, já que nesse momento se alguém tropeçasse, a parede de escudos era rompida.
No livro “O Rei do Inverno”, primeiro da trilogia arturiana, Derfel narra que geralmente quando a matança era grande, as duas paredes recuavam, até que os mortos e feridos fossem retirados da linha de batalha.
Além das Crônicas de Artur, outro livro que explora bem o tema parede de escudos é “Terra em chama”, quinto volume das crônicas saxônicas, também de Cornwell. Quanto a filmes, nada melhor do que “300”, aquele em que o brasileiro Rodrigo Santoro interpretou o vilão Xerxes. Mas como a missão do nosso blog é ajudar na escolha de livros e não de filmes; aos “internautas leitores” que se interessaram pelo assunto recomendo ler com urgência os três livros que compõem “As Crônicas de Artur”. E aí? Mãos a obra.

2 comentários

  1. As Crônicas de Artur está na fila. Depois que eu terminar de ler as Crônicas Saxônicas. O post ficou muito bom.

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    1. Nilton, com certeza será uma das melhores trilogias que irá ler em toda a sua vida. Aproveite cada momento.
      Abcs!

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