Foto/ fonte: baudostephenking.wordpress.com |
Já vou logo alertando que esse post está cheio de spoilers. Minto. Cheio, não. Ele está contaminado, abarrotado, empesteado, enfim, descaradamente insuflado de spoilers. Portanto, se você tem intenção de ler o conto “Sobrevivente” que faz parte da coletânea do excelente “Tripulação de Esqueletos”, esqueça essas linhas. Esqueça mesmo! Mas se o amigo ‘leitor-internauta’ não liga para spoilers, pelo contrário, até gosta de ficar inteirado sobre as revelações “profundas” do enredo; tudo bem... tudo bom, fique à vontade.
O motivo que me fez criar um post sobre um único conto é simples: a história é fantasticamente boa! Boa demais! O mestre do terror e suspense, Stephen King estava inspiradíssimo quando escreveu “Sobrevivente”. Fiquei muito impressionado com o tema. Não com medo, mas impressionado. Sinceramente não sei como explicar. Sei lá, medo é quando você tem aquele calafrio na espinha no momento em que lê algo perturbador que lhe impede de se levantar da cama durante a madrugada para ir até o banheiro fazer xixi. Agora, existem histórias ou contos que lhe fazem sentir... sentir.... Caraca! Não consigo encontrar a palavra certa. Juro, é verdade! Vamos ver... talvez inquieto, desconfortável... Tipo está exclamação: “Caramba! E se esse fato surreal ou fantástico, mas possível, acontecesse comigo? Será que eu teria coragem de fazer o que o personagem do conto fêz?!” Pronto! É isso, Desculpe aí galera, mas esta foi a melhor definição que encontrei para o conto “Sobrevinte”.
Li a história há mais ou menos três anos e ainda não consegui retirá-la da minha cabeça. Ela é muito forte, impressionável.
Bem, vamos ao âmago do assunto. Me responda uma coisa: “Até que ponto um paciente suporta um trauma?” Vou ser mais claro. “Até que ponto uma pessoa consegue suportar uma sequência de amputações em seu corpo?” Detalhe: sem... – arghhhhhhhhhhhh – anestesia! Isto significa à sangue frio!! Malemá tomando uma morfininha vencida...
Pronto pessoal; esta é a essência do conto de King que está no livro “Tripulação de Esqueletos”, lançado originalmente em 1986.
É o que acontece com um médico cirurgião, único sobrevivente de um naufrágio, que vai parar numa ilha deserta. E quando digo deserta, estou dizendo deserta meeeeesmo!! Completamente estéril, sem nada que possa aliviar a sua fome. ‘Entonce’ para não morrer à míngua e faminto, ele começa a comer pedaços do próprio corpo!
E é aí que entra o gênio de King. A descrição meticulosa das amputações feitas pelo médico em si mesmo chega a ser repulsiva, fazendo com que o leitor se sinta escabrosamente mal... péssimo. O impacto é maior porque o conto é escrito na forma de um diário, com o personagem narrando o seu drama para os leitores.
Lembro agora que um dos livros que me tirou a fome por vários dias foi “Primeiro Sangue” de David Morrell; tudo por culpa daquele trecho em que o personagem Rambo, refugiado numa mata fechada, no auge de sua fome resolve devorar uma coruja crua e com algumas peninhas extras. Morrel faz questão de narrar de maneira sádica os detalhes sobre o preparo da ‘deliciosa’ guloseima e também o que o herói de guerra sentiu ao morder o bicho. Mil vezes Ecaaaaaaa!!!! Agora, vou dizer uma coisa, as passagens do conto “Sobrevivente” colocam no bolso a tal “coruja do Rambo”.
Para escrever o conto, King consultou um médico aposentado – vizinho seu – chamado Ralph Drews que lhe deu todas as informações sobre o assunto. Por isso mesmo, as cenas de amputações do cirurgião perdido numa ilha deserta, são por demais realistas, tendo todo o embasamento médico. King diz que levou mais de uma hora conversando com Ralph Drews. E embora, ele ficasse receoso a princípio, finalmente concordou em assessorá-lo no conto. O médico esclareceu que – se necessário – um indivíduo poderia subsistir durante um bom período, vivendo à custa do próprio corpo. King, então, teria perguntando ao amigo: “E quanto ao choque repetido das amputações? Até que ponto o paciente pode suportar o trauma” O médico aposentado teria respondido com uma outra pergunta: “Até que ponto o paciente deseja sobreviver?”.
E posso garantir que o desejo de sobrevivência do personagem do conto, Dr. Richard Pine, é enorme. Portanto, você não precisa ser nenhum bidú para adivinhar o que o cirurgião vai aprontar. Cara! Ele, simplesmente, vai transformar o seu corpo numa mesa de frios!!!
O festival de ‘auto-mutilações’ começa, por acaso, quando o náufrago, completamente alucinado pela fome, torce o tornozelo ao tentar subir num monte na esperança de sinalizar para um avião que sobrevoava o local. O pé de Pine vai inchando, inchando, até ficar vermelho. Temendo que o membro machucado evolua para uma gangrena, ele decide “se operar” e extirpar o pé. Sente só o drama descrito em seu diário: “O inchaço e a vermelhidão estão piores. Vou esperar até amanhã. Se a operação se tornar necessária, acho que conseguirei levá-la a cabo. Tenho fósforo para esterelizar a faca amolada, além de agulha e linha do estojo de costura...” Quer mais? Segura aí: “Decidi amputar o meu pé. Há quatro dias que não como. Se esperar mais tempo, corro o risco de desmaiar de choque e de fome no meio da operação, e sangrar até morrer. E mesmo estando um trapo, eu quero viver...” Ehehehehe.... Adivinhe o que ele fez depois de amputar o referido membro? Tá bem, eu conto: Pegou o pé inchado, inflamado, doente e.extirpado e glub, glub, glub...deglutiu.
Olha, não vou descrever os detalhes narrados pelo médico durante e após a cirurgia porque não sei o que você, caro internauta, que lê essse post está fazendo agorao. Sei lá, talvez você esteja comendo um delicioso X-Burguer” ou então beliscando uma tabuinha de frios acompanhada de uma loira gelada... então é melhor esquecer. Apesar dos spoilers, aconselho ler o conto. É melhor... prá você e principalmente para mim que não serei obrigado a reler aqueles trechos r-e-p-u-l-s-iv-o-s, mas escritos com tanta maestria pelo mestre King.
Bem, resumindo, o Dr. Pine foi ‘se comendo’, ‘se comendo’ até que... Chega vai! Vou parar por aqui porque a grande sacada da história está reservada para o final. E... tudo bem que eu possa ser sacana de rechear esse post de spoilers, mas revelar o fim da história, jamais. Isto seria descaramento total.
Taí! “Sobrevivente” foi, um conto que mexeu muito comigo e por isso mereceu um post só dele.
2 comentários
É um dos melhores contos da coletânea, sim. Mas o melhor mesmo é A Balada do Projétil Flexível.
ResponderExcluirÉ um ótimo conto sim, mas acho um exagero dizer que é uma história pra quem tem estômago forte,não achei nada demais,não fiquei tão impressionado como a maioria das pessoas que leram, disse ter ficado.
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